sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Queimadas provocam 'frio' e 'seca' na Amazônia


Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) mostrou pela primeira vez como as queimadas na Amazônia estão causando a queda da temperatura e das chuvas na região.

O estudo foi apresentado na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo os cientistas, o fogo libera para a atmosfera uma enorme quantidade de pequenas partículas que refletem a luz do sol de volta para o espaço.

A perda de calor no solo está levando a uma queda de cerca de 3ºC na temperatura média da estação seca na região, que vai de agosto a outubro. As partículas também estão retirando a umidade das nuvens, reduzindo em até 30% as chuvas em algumas partes da floresta.




Escudo solar




A comunidade científica internacional já sabe há algum tempo que essas partículas atuam como um escudo, absorvendo e devolvendo a radiação solar ao espaço e esfriando a superfície do planeta.


A pesquisa brasileira, porém, é a primeira a medir o impacto do fenômeno na Bacia Amazônica.

Os incêndios espontâneos e as queimadas atingem cerca de 15% do território da Amazônia, mas os efeitos da poluição causada pelo fogo podem ser percebidos em uma área mais extensa.

"A floresta nativa e intocada cobre cerca de 5,5 milhões de quilômetros quadrados", disse Paulo Artaxo, um dos autores da pesquisa.

"Acreditamos que cerca de metade dessa área está sendo afetada por esse tipo de poluição secundária."

As finas partículas de carbono liberadas pelo fogo sobem a até 15 km do solo e se espalham sobre a mata.

"Esse fenômeno está perturbando fortemente o equilíbrio de radiação na Amazônia", afirmou o pesquisador.

"Em algumas áreas, estamos perdendo cerca de 40% da radiação total que estaria à disposição do ecossistema em condições normais. Isso pode afetar profundamente a saúde desse ambiente."




Vegetação ameaçada



As partículas também estão interferindo na formação das nuvens, tornando mais difícil a transformação das moléculas de água em gotas de chuva.


"Em algumas áreas que estão sofrendo queimadas, percebemos uma redução de 30% nas precipitações", afirmou Artaxo. "Em pouco tempo, os satélites vão registrar a queda no nível de chuvas na floresta como um todo."

Os incêndios também afetam a qualidade do ar, pois emitem monóxido de carbono e outros gazes causadores da produção de ozônio, que, em níveis elevados, prejudicam a vegetação.

Artaxo afirmou que sua pesquisa tenta precisar os efeitos que a queda na radiação solar e o aumento do nível de ozônio podem trazer para o ecossistema da floresta.

"É interessante notar que há alguns estudos, como um da China, por exemplo, que mostram que os altos níveis de ozônio podem reduzir a eficiência das colheitas em até 25%."

Jonathan Amos


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